Game of Brands #17 - o fim de uma parceria de 30 anos
EA e FIFA seguem caminhos distintos a partir de agora, e outros destaques da semana.
Salve! Nesta edição vamos entender por que os fãs de jogos de futebol não falavam de outro assunto. Além de outras notas legais. Boa leitura! _ Anderson
Algo que já era prospectado há anos no mercado de games aconteceu oficialmente no começo desta semana. A Electronic Arts rompe a parceria de mais de 30 anos com a FIFA e passa a lançar seus jogos de futebol para videogame com sua própria marca, o EA Sports FC. Sem o nome FIFA no título. A mudança terá efeito apenas em 2023.
É o fim de uma tradição. Desde a década de 90 você sabe que todo ano tem um jogo novo com o nome FIFA, que atravessou mudanças de gerações de videogames até os dias de hoje. Foi uma das franquias mais longevas da história dos jogos, e uma das mais longas parcerias de uma marca com uma desenvolvedora de games.
Mas por que acabou? Bom, tem a ver com uma história de contratos de licenciamento que atravessou a última década, e o próprio sucesso da parceria.
Ter a bandeira da FIFA significa saber que você podia jogar com times do Campeonato Brasileiro ou da Premier League (a liga de futebol inglesa). Porém, essas negociações estão cada vez mais complicadas ao longo dos anos. Isso não era uma preocupação no começo dessa história, na década de 90. Os mais antigos vão lembrar de jogadores fictícios famosos como o Allejo no International Superstar Soccer, do Super Nintendo - era uma forma de não se enrolar com direitos de nomes dos atletas. Isso começa a mudar no começo dos anos 2000, quando os jogos passam a ter texturas e gráficos 3D, reproduzindo com mais fidelidade o mundo real. Isso atrai a atenção de times e jogadores que começam a se importar com sua imagem no game.
E aí as negociações mudam de patamar. A EA passou a negociar diretamente com os times, confederações e até estádios. Em alguns casos isso é mais simples como na Inglaterra, onde a FA (Football Association) é a única detentora dos direitos de reprodução de imagens de tudo que acontece no futebol profissional do país. Mas a Konami, que produz a série de jogos concorrente (Pro Evolution Soccer) negocia em nível mundial com a FIFPro (Fédération internationale des Associations de Footballeurs Professionnels), uma espécie de sindicato mundial de futebolistas. Essa fragmentação gerou algumas exclusividades usadas fortemente por estes jogos - a série FIFA teve a Premier League com exclusividade, assim como o Pro Evolution Soccer era o único jogo onde você podia jogar com o Juventus, da Itália, ou com o Corinthians. O rolo é gigante e no Brasil, onde as negociações podem ser feitas até diretamente com os atletas por conta da Lei Pelé, faz com que esses games tenham apenas alguns times de alguns países, ou mesmo coloquem as escalações com jogadores fictícios, voltando para a época do Allejo.
Independente disso, FIFA é um nome de sucesso nos games desde sempre. Nesses 30 anos, segundo o NYT, A EA arrecadou mais de US$ 20 bilhões em vendas ao longo dos anos. É o jogo de videogame mais vendido no Brasil (você sabe o porquê). E a EA pagava anualmente mais de US$ 150 milhões pelo licenciamento, que seria a principal receita comercial da FIFA atualmente.
A crise econômica causada pela pandemia explicaria a vontade da EA de economizar esse valor, além de um grande desacordo entre EA e FIFA sobre o que este contrato de direitos exclusivos deveria incluir. Além disso, a FIFA passou a exigir muito mais - a soma pedida chegou na casa de mais de US$ 1 bilhão por cada ciclo de Copa do Mundo (4 anos) e um maior controle criativo sobre a marca no jogo. Pra EA, não valeu mais a pena. Fim de partida.
A EA agora segue para uma franquia original própria que, segundo eles mesmos… continuará a mesma coisa. "Tudo que você ama sobre nossos games farão parte do 'EA Sports FC' — as mesmas grandes experiências, modos, ligas, torneios, clubes e atletas estarão lá", disseram em comunicado. E a FIFA também anunciou que pretende criar sua própria série de jogos, sem a EA - não se sabe ainda com quem.
O fato em si já é histórico e na minha opinião mostra uma correlação com o universo de serviços de streaming: é sobre marca x conteúdo. A FIFA tenta controlar melhor esse “storytelling”, agora sem um parceiro importantíssimo. E a EA vai confiar na reputação pra construir sua nova história. Quem vai sair melhor dessa disputa? Na prática, a EA sai na vantagem, pois já detém a experiência de décadas desse tipo de jogo, os acordos de licenciamento em vigor. Mas por não ter mais uma parceria com a FIFA, podemos não ter nesse jogo seleções nacionais ou mesmo o modo Copa do Mundo. Para a FIFA acaba a maior fonte de renda da instituição, no meio de denúncias constantes de corrupção e perda de relevância.
Chama a patroa de novo! Anitta não para. Na edição passada da Game of Brands falamos sobre a cantora ter virado um novo personagem dentro do game Free Fire. Agora a Garena, produtora do jogo, anuncia a Taça da Patroa, campeonato feminino promovido para celebrar a chegada dela no game. Palmas pra mais um campeonato feminino de esports no Brasil, e pra essa ação!
Lembram do destaque pro game Favela X, da ONG Gerando Falcões, também na newsletter passada? A iniciativa já tá gerando novas parcerias dentro dela mesma. A Havaianas fez uma ativação de marca dentro dessa expansão do game, trazendo exposição para a parceria da marca com a ONG no projeto Quebrada Cria, uma coleção lançada para fortalecer e impulsionar artistas de comunidades do Brasil inteiro, com 7% das vendas dos produtos direcionados para os projetos da Gerando Falcões. Plataforma dentro de plataforma.
Para ler com calma: a história da organização brasileira de esports Los Grandes, uma das emergentes no nosso cenário, já rivalizando com times como FURIA e LOUD em termos de engajamento. Bem legal como um grupo de amigos dentro do Free Fire “aconteceu” pra se tornar o que é hoje.