Game of Brands #24 - Ascensão e queda dos NFTs nos games
Do interesse de muitos à fuga e defesa de território. E outros destaques da semana.
Salve! Hoje a newsletter se aprofunda num tema que já tem tomado minhas pesquisas sobre o mercado de games tem um tempo, ainda na linha crítica que eu sempre fiz e agora com movimentos mais claros do mercado que validam esse pensamento. Claro que isso é só um reflexo do momento, mas é importante trazer isso para quem pensa em branding, que sempre é uma estratégia de longo prazo. Boa leitura! _ Anderson
Nosso mercado é assim: as coisas acontecem muito rápido. O que era interessante ontem, já não é mais hoje. Quem assina a Game of Brands há algum tempo vai lembrar que dedicamos uma newsletter quase inteira a falar dos NFTs em jogos, o famoso “play to earn” que tem invadido games, de indies a grandes títulos.
Essa onda começa a murchar. Por vários motivos.
A primeira delas, o próprio comprador de NFTs. Esses tokens começam a ter menos interesse e demanda no mercado por conta de uma pré-recessão que a maioria dos países está vivendo pós-pandemia. E a sensação de entrega e de valor também passa a ser percebida como baixa. Games como Axie Infinity, que chegou a ter seus “bichinhos” de NFT comercializados por ate 300 dólares em 2020, já não trazem todo esse valor a seus bens digitais porque esses games se popularizaram e mais pessoas jogam - isso diminui a oferta para uma demanda crescente, e com isso os preços especulativos se reduzem. E os golpes começam a acontecer: o próprio Axie Infinity foi vítima de um sequestro de mais de 600 milhões de dólares em cripto.
A segunda: as empresas de games começam a ter uma postura mais firme em relação à adoção desses ativos. E essa postura passa a ser de negação. A Mojang, empresa que desenvolve o popular game Minecraft, por exemplo, anunciou esses dias que não terá NFTs ou tecnologias Blockchain em seu jogo, porque isso configuraria uma quebra dos valores do game. A Epic Games, mantenedora do Fortnite, já disse que vai passar bem longe de NFTs por enquanto, por se preocupar com o índice de golpes que este tipo de negociação pode trazer.
Parece ser legítimo o pensamento se você lembrar do exemplo do Blockverse, um projeto de terceiros baseado no Minecraft mas construído dentro de sistema de criptomoedas e blockchain - o jogo simplesmente sumiu depois de investimentos de mais de 1 milhão de dólares. O site foi apagado, o servidor do Discord também, e claro, o dinheiro das vendas de Ethereum. Um golpe gigantesco em quem confiou neste jogo. E empresas grandes como a Epic não entregarão o controle de seus principais assets para um sistema descentralizado e suscetível a isso.
Por que você, que trabalha com marketing e branding, precisa saber disso? Bom, porque neste momento você pode estar recebendo milhares de propostas e ideias para lidar com NFT, play to earn e outros modelos de blockchain. Nunca esqueça que a experiência é parte importantíssima de qualquer contato entre marca e consumidor. E com os games não é diferente. No fim do dia, o gamer só quer jogar. E NFTs e outras iniciativas blockchain ainda não estão plenamente sólidas como validadoras de uma experiência melhor e mais vantajosa pro consumidor. Leve isso em conta sempre para entregar valor na sua experiência, e não frustração com esquemas especulativos. Vai com calma porque é tudo muito novo e se cerque de entendimentos bem claros sobre como experimentar e brincar com isso. Nada é proibido, desde que o consumidor não se sinta lesado com isso.
E isso representa o fim do NFT? Muito pelo contrário. O formato ainda está por aí em diversas iniciativas e o combo de “coleção + item exclusivo”, como faz o Bored Ape e alguns artistas musicais proporciona um modelo novo e interessante de renda. Ainda acredito no potencial do formato, mas sem o caráter especulativo que ele traz e sem quebrar experiências de entretenimento já existentes. Cabe agora ao mercado entender como trazer valor para um bem digital de forma que ele não vire um sistema econômico em si próprio.
Ainda sobre o tema, vale ver também o painel do Mark Venturelli no BIG Festival, feira de games independentes que aconteceu em São Paulo em julho. Mark, CEO e diretor criativo da Rogue Snail, pisa com força nesses calos todos e traz uma reflexão sobre o blockchain como um sintoma da falta de confiança dos mercados e da sociedade, e os NFTs como quebra da experiência mágica e lúdica de jogar um jogo. Aproveite a palestra dele para ver exemplos bem didáticos para entender blockchain.\
Preste atenção nessa tendência: empresas especializadas em criar mapas para jogos. O que antes acontecia pelas mãos de duas ou três pessoas muito talentosas que criavam mapas em games como Fortnite, Roblox e Minecraft agora se torna um negócio mirando ações de marcas nesses metaversos. Só nesta semana vimos duas empresas novas: a Pixel Hunters, dos gamers Sharshock, Clebito e Droust e a Hero Create, dos gamers Flakes e Biggie. Esses caras já criaram mapas para marcas como Itaú, Doritos e Samsung. E com essas empresas vão dar mais atenção a algo que era mais um freelance, suprindo uma demanda alta.
A Piticas anuncia uma parceria com a Riot Games. Uma linha de produtos personalizados vai suportar o lançamento da campanha global com uma das temáticas mais aclamadas pelos fãs e jogadores de League of Legends, as Guardiãs Estelares. Teremos série de conteúdos nos jogos League of Legends (LOL), Wild Rifit e Legends of Runeterra - e claro, a lojinha da Piticas cheia de Lolzinho.
Pra ficar de olho: a IAB está revendo seus padrões para anúncios in game - sim, a IAB tem padrões focados neste segmento que não eram atualizados há mais de 10 anos. O novo guia publicado em junho ainda está em finalização depois de uma avaliação pública, e deve dar direções mais claras sobre como medir a eficácia de um anúncio dentro de um jogo. O que demorou muuuuuito pra acontecer por parte da IAB e parte de uma pressão do próprio mercado, que está caminhando para o formato de in-game advertising fortemente. Estou curioso pra saber quais serão as definições finais.
Uma ação muito legal em Praga, na República Tcheca, traz luz para a prevenção contra doenças oculares entre os gamers. O projeto Gamer Eye Test foi desenvolvido pelo departamento de optometria da GrandOptical e a Entropiq, equipe local de esports, e visa aumentar a conscientização sobre a necessidade de testes oftalmológicos regulares - especialmente entre gamers e atletas de esports, mais suscetíveis a estes problemas. O Gamer Eye testa a visão dos jogadores durante os jogos, avaliando desde a acuidade visual até sensibilidade ao contraste. A resposta da comunidade de esports tcheca superou as expectativas, fazendo com que a GrandOptical trabalhe na expansão do projeto para outros países como Polônia, Eslováquia e Hungria. Ah, a campanha também foi short list em Cannes Lions deste ano, na categoria Pharma.
Para ver com calma: o minidoc Um Real a Hora é o TCC de André Alcântara que traz à tona o cenário ainda existente das lan houses e locadoras de jogos, onde quem não tem condições de ter um videogame ou PC gamer pode jogar as novidades a um baixo custo, e ainda curtir um espaço social onde acontece muita coisa. São espaços cada vez mais raros e resistem ao tempo. Isso mostra que nem sempre o recorte social impede as pessoas de ter contato com games.
Para jogar e entrar no hype: os gamers estão alucinados esta semana por conta de um jogo de um … gato. Stray saiu para PC e Playstation e no game você joga com um gatinho que foi abandonado em um mundo ciberfuturista - aparententemente ele é o único ser vivo restante, e precisa encontrar outros seres ou mesmo pra onde eles foram, com a ajuda de muitos robôs que ficaram para trás. Stray é a sensação em lives na Twitch e memes no Twitter e é sério candidado a GOTY (Game of The Year, jogo do ano) entre especialistas. Veja você.
Imagens: CoinTelegraph, The Enemy, Geek Publicitário, Input Mag, WIRED.