Game of Brands #25 - O jogo das eleições
E o mundo dos games é parte importante dessa história, independentemente da sua escolha.
A campanha política passa pelo mundo gamer, sim. E eu decidi trazer esse tema para a news porque políticos se colocam como marcas nestas eleições: medindo adesão e rejeição a todo momento. Acho que é um momento importantíssimo para nós, que estudamos este mercado, de ver essas estratégias aplicadas e entender o que é mais certeiro e o que não é. Espero que esse estudo mais aprofundado valha o MEGA atraso que a news teve nas últimas semanas, por puro bloqueio criativo meu.
Boa leitura! _ Anderson
Sim, chegamos naquela época do ano. A festa da democracia. Em um ano completamente delicado para esse assunto, os brasileiros escolherão seu próximo presidente, governadores e deputados federais/estaduais. E quem trabalha com marcas e o mercado de games já sabe: é uma época espinhosa para se trabalhar com marketing. Porque, convenhamos, é impossível que os gamers fiquem de fora. Como não ficaram pelo menos nos últimos anos. Quem tem esta audiência ao seu lado tem uma atenção completamente diferente, com um poder de mobilização altíssimo.
A conclusão que eu chego é que o mercado gamer ainda é apenas uma âncora de engajamento político com o público jovem, sem visão de desenvolvimento ou inovação por parte dos candidatos. Querem mais surfar na onda do que descer e criar algo que realmente suporte o público e o desenvolvimento local deste setor.
O atual presidente tem feito uma aproximação forte junto a este público desde 2019, estimulando cortes de impostos em vários momentos - uma mudança de postura para quem considerava videogames “um crime” há alguns anos. Isso se estendeu até em 2020, em plena pandemia, com reduções contínuas de IPI que favoreceram preços “melhores” de consoles novos como o PlayStation 5 e o Xbox Series X.
Já é famosa a tuitada “Um forte abraço, gamers!”, que Bolsonaro escreveu em seu perfil no Twitter após publicar um vídeo em que aparecia brincando com um jogo de simulação de tiro em realidade virtual. A postagem acumulou quase 3 milhões de visualizações e gerou mais engajamento que suas tradicionais alfinetadas no PT. Porém, esse apoio caiu muito em 2022 - reflexo da má condução do país no período de pandemia. O que me deixa realmente intrigado. Os esforços de campanha estão mais concentrados em outros públicos onde precisa ganhar mais apoiadores, como os evangélicos e as mulheres, ok. Mas não ter uma mensagem específica para este público, nenhum canal, conteúdo ou mensagem dedicada, é no mínimo, estranho.
Lula, o atual líder nas pesquisas tem uma adesão maior neste momento do público gamer, e especificamente do mercado. No dia 17 de agosto um comitê formado por 30 profissionais do setor elaborou, de forma voluntária, a cartilha Lula Play para entregar ao ex-presidente, cheia de sugestões de políticas públicas. Isso colocou Lula no centro das discussões deste mercado. E é uma resposta à aproximação de Bolsonaro: a iniciativa do Lula Play partiu do Instituto Lula, que em maio deste ano convidou especialistas para discutirem o setor.
Porém, a campanha de Lula, já fraca digitalmente, tem pouco a trazer em relação ao público gamer. Esperamos que isso mude em termos de políticas públicas caso ele venha a ganhar a eleição, juntamente com as propostas dessa cartilha.
Ciro Gomes, isolado lá na terceira via, tem tido uma aproximação de campanha mais forte com o público gamer. A criação do canal Ciro Games o fez transmitir lives periódicas com seus planos de governo no YouTube trazendo uma linguagem bem gamer para o cenário ao estilo de um mesacast, mas não espere ver o Ciro jogando algo - é só uma apropriação de linguagem mesmo.
Um ponto importante sobre a campanha política no mundo gamer: ela parece estar disseminada de forma muito mais amadora do que coordenada pelos gabinetes de campanha dos candidatos. A Folha de S. Paulo fez uma reportagem mapeando jogos amadores criados pela comunidade envolvendo os candidatos, disponíveis em smartphones e na Steam (PC). De 14 jogos sobre candidatos identificados pela reportagem, Bolsonaro está em dez —seja em contextos de crítica ou de exaltação. A maioria está no contexto de meme e no fluxo de criação de conteúdo desta época, mas mostra bem como essa linguagem política se espalha também por jogos simples.
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De qualquer forma, vemos que engajamento neste público existe para todos os lados e pensamentos políticos. Cabe a nós, que estudamos o impacto das marcas nas pessoas, entender e absorver os aprendizados dessas eleições que ainda não acabaram - o dia da votação vem aí, e ainda podemos ter um segundo turno quente.
Aliás, se tivermos segundo turno prepare-se para uma época ainda mais intensa de debate político no cenário gamer. Uma temática que já surgiu em 2022 foi de que algumas marcas estão proibindo influenciadores de se posicionarem politicamente durante a vigência do contrato publicitário. Na minha honesta opinião, será difícil ter algum tipo de personalidade atrelada à campanhas que não se manifeste politicamente pois é uma época muito delicada e essas pessoas, como influenciadoras que são, podem se ver impelidas a declarar sua posição pelos seus seguidores e fãs.
Marcas mais identificadas com essas mensagens e posturas devem seguir o mesmo caminho, creio eu. Não haverá muito espaço para ficar em cima do muro, e talvez seja o melhor momento para não ficar. Uma pesquisa de 2020 da Accenture Strategy, a “Global Consumer Pulse”, aponta que 83% dos consumidores brasileiros preferem comprar de empresas que defendem propósitos alinhados aos seus valores de vida, dispensando marcas que preferem se manter neutras. Leve em conta os aprendizados que tivemos com a pandemia, e esse caldeirão tem a mistura perfeita para o posicionamento político ser um ingrediente forte no próximo mês - claro, sempre lembrando, se sua marca está sólida o suficiente para sustentar isso além da conquista de território com o público gamer. Somos todos seres políticos independente de partidarismo, e isso deve sempre ser lembrado pelos times de estratégia e marca.
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Importante: o texto acima não tem a intenção de ser sua única fonte de informação sobre a relação atual entre games e política. Recomendo que você aprofunde mais essas informações e deixo alguns links abaixo para ajudar.
Conservadorismo, misoginia e extremismo na cultura gamer no Brasil - Pesquisadoras refletem sobre machismo e extremismo na cultura gamer no Brasil e no mundo.
Como games independentes simples viram uma arma para promover e criticar presidenciáveis, como mostramos acima.
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É isso pra esta semana. Queria muito escrever essa edição e desengasgar finalmente da crise de escrita. A partir da semana que vem voltamos com a programação normal de cases interessantes, sempre de vez em quando dando espaço pra uma análise maior como foi essa aqui.
Imagens: YouTube, Folha de S. Paulo, CanalTech, Steam, Twitter