Game of Brands #18 - O futuro da cultura pop é um grande rolê aleatório?
Dissecando um pouco as propriedades de marca dentro de games e outros destaques da semana
Salve! Nesta semana vamos nos meter em uma grande briga, e entender por que ela diz muito sobre a cultura pop atual. Boa leitura! _ Anderson
A newsletter dessa semana disseca um pouco um excelente artigo que saiu no Kotaku, um dos meus sites preferidos sobre o mercado de games. O repórter Zack Zwiezen trouxe à tona a repercussão do primeiro trailer de lançamento do jogo Multiversus, da Warner Games. Neste mega embate entre personagens de propriedade da Warner você vai ter direito a escolher para uma pancadaria desde Batman até o Salsicha (do Scooby-Doo), o Pernalonga enfrentando a Arya de Game of Thrones, e por aí vai. É uma maneira da Warner entrar num filão de tipo de jogos que já faz sucesso, os “brawl games" ao estilo de Super Smash Bros (Nintendo) e Brawhalla (Ubisoft). E parece mega divertido, aliás. O trailer brasileiro do jogo (abaixo) contou com a voz de dubladores nacionais dos personagens.
O artigo destaca que os fãs de um personagem específico presente no game estão bem desapontados. É o Robô Gigante. Quem lembra desse? Lá do filme de 1999, uma animação maravilhosa (aliás, a estreia de Brad Bird na direção, que depois viria a trabalhar na Pixar e trazer à vida Os Incríveis) onde o robô, construído para a guerra, cai na Terra e faz amizade com um garoto, e abre mão de sua função original para escolher um caminho sem violência.
Pois bem, o que um robô pacifisita está fazendo em um jogo de luta? Alguns fãs acharam isso bem incoerente com o próprio personagem. O diretor do jogo já veio a público tentar explicar que este Robô Gigante é uma versão de um universo alternativo. Enfim.
Mas como bem destaca o artigo, isso é só uma casualidade numa tendência visível = a mistura de universos. Filmes, séries, quadrinhos, séries de livros e personagens de todos os lugares estão lentamente se juntando em um único lugar. Pra mim, o verdadeiro multiverso. Lembra do filme Jogador Número 1, com um monte de personagem de diversas franquias? Já é assim todo dia em jogos como Fortnite, da Epic Games. A receita de sucesso do jogo abre as portas pra qualquer acordo de licenciamento e com isso você pode escolher a skin de dezenas de personagens Marvel (que já teve até temporada própria dentro do game), DC e outras franquias como Star Wars, Robocop, Caça-Fantasmas, Chapolim Colorado, NBA, NFL... Fora a transformação de celebridades e artistas em skins. Todo dia tem um Batman disputando um battle royale contra a Ariana Grande.
A fórmula é vantajosa tanto pra Epic, que vende essas skins dentro do jogo e fatura alto com isso, quanto para as marcas que licenciam suas propriedades para um game que tem, segundo dados da própria Epic Games, mais de 350 milhões de jogadores, e segundo a PlayerCounter, entre 3 e 8 milhões de jogadores ativos. Isso se explica porque sempre foi parte da fantasia nerd misturar personagens em um único embate e saber quem sairia vitorioso. Coloque isso em um modelo de negócio e você terá empresas correndo atrás de criar seus próprios metaversos concorrentes e misturar tudo, como crianças brincando com brinquedos diferentes no quintal.
Alguns exemplos recentes, fora o próprio Multiversus, da Warner, e as dezenas de novidades mensais de Fortnite.
A série de anime Evangelion anunciou um crossover no jogo PUBG Mobile.
A banda Slipknot terá os integrantes da banda no jogo Smite.
E mais recentemente, até o BABY SHARK (tu tu turuu ruru) teve uma ação dentro do PUBG Mobile.
Creio que isso vai ser uma fórmula que todo estúdio vai querer ter no colo. Um jogo, uma série, qualquer coisa que represente esse momento doido de juntar personagens de universos diferentes em um lugar só. Com a fusão de grandes empresas de entretenimento (como a recente entre Warner e Discovery, e a aquisição da Marvel e Lucasfilm pela Disney) é algo que só tende a proliferar. Na edição #16 da Game of Brands destacamos os anúncios dentro de jogos, certo? Os games continuam no caminho para ser uma mídia valiosíssima para qualquer marca, graças à sua alta concentração de atenção e mobiização.
O futuro da cultura pop parece se transformar em um grande rolê aleatório de propriedades intelectuais, e pouco importa sua origem ou história ou valores constrúidos pelos autores. Por enquanto o público tende a aceitar isso muito bem, mas casos como o do Robô Gigante nos mostram que os fãs defendem seus personagens preferidos e não querem ver qualquer mistura. Vamos ver como vai ser o desempenho do jogo Multiversus - acho que ele dirá muito sobre o sucesso da replicação de uma fórmula.
De acordo com o relatório da XDS (External Development Summit) , um dos maiores eventos do setor de desenvolvimento de jogos, o Brasil tem sido destino cada vez mais relevante de investimento em estúdios nacionais de games. O país é destaque pelo segundo ano consecutivo no relatório. Ótima notícia para o mercado brasileiro de game development, que busca seu lugar ao sol. Dica: jogue jogos feitos por brasileiros, eles são realmente bons. Recomendo Unsighted e Horizon Chase Turbo.
Ainda no mercado brasileiro: A Omelete Company adquiriu o Big Festival, um dos maiores eventos da indústria na América. A parceria tem como objetivo agregar valor e articulação dentro do segmento de jogos virtuais como um todo, além de reforçar a importância do evento dentro do cenário de games independentes. Movimento bem interessante da Omelete Company, já imersa na cultura pop brasileira com a CCXP. A edição de 2022 do BIG acontece entre os dias 7 e 10 julho.
Vale ver o case da Budweiser Colômbia. Eles lançaram o Royalty Free Bot, uma ação que integra música e games. A Bud percebeu que milhares de streamers são banidos de plataformas todos os dias por utilizarem músicas sem direitos autorais em suas transmissões, e ao mesmo tempo milhares de cantores e artistas muito promissores passam despercebidos simplesmente porque não têm ninguém olhando para eles. A campanha une essas duas pontas, com a Bud comprando os direitos de mais de 15 mil músicas desses artistas e liberando-as para os streamers usarem à vontade. E ainda tem um bot num servidor do Discord para disponibilizar essas musicas gratuitamente. Ótima sacada, acertando direto em uma necessidade desse público.
Dados da semana
Devíamos cobrar do Gaules por sempre ter alguma menção na Game of Brands toda semana. Mas ele merece. Nesta quarta ele quebrou o recorde que era do Casimiro, de espectadores ao vivo simultâneos em uma transmissão da Twitch - mais de 707 mil pessoas assistiram ele acompanhar o desempenho do time brasileiro da Imperial no campeonato mundial de CS:GO. Lembrando que o Gau já diversifica seu conteúdo transmitindo partidas da NBA, Stock Car e Campeonato Carioca. Pra ter uma noção: o canal do Gaulês é responsável, sozinho, por conseguir o dobro da audiência que o próprio canal global da transmissão do torneio consegue, como vemos nos dados acima do Esports Charts. O Brasil adora esse jogo.
Vale dar uma lida na matéria da Forbes sobre as 10 mais valiosas empresas de esports no mundo. Juntas elas alcançam um valor médio de US$ 353 milhões cada uma, um aumento de 46% em relação a 2020. A reportagem também mostra como elas estão diversificando rapidamente seus negócios enquanto enfrentam desafios cotidianos.