Game of Brands #10 - E o metaverso, hein?
Sim, você deve prestar atenção nesta tendência, mas com moderação. E também nos outros destaques desta semana.
Saudações. Esta é a Game of Brands, uma newsletter sobre as atualizações recentes do mundo do marketing e branding dentro do universo dos games. Se você não se inscreveu faça isso logo abaixo e compartilhe a newsletter com quem você achar que vai gostar. Primeiramente, perdão pela ausência na semana passada. Simplesmente eu sentei pra escrever e o texto não saiu. Bloqueio de escrita. Acontece. Não queria furar, mas acabei furando. Para esta semana já foi mais fluido.
Acho que faz parte dessa nova rotina onde me coloco com esta tarefa semanal e ainda estou procurando um modelo ideal de como escrever a newsletter. Isto posto, vamos pra edição da semana onde começamos a explicar esse monstro do metaverso - um bicho difícil de entender. Boa leitura!
28 de outubro de 2021. Em uma conferência anual do Facebook, Mark Zuckeberg começa a detalhar os planos da empresa sobre realidade aumentada e virtual para o futuro. E então vem a palavra: metaverso. O CEO detalha que o futuro do Facebook Inc., agora rebatizado de Meta, está ancorado num novo mundo digital imersivo, o Horizon. O que, nas palavras dele, “será o sucessor da internet móvel. Poderemos sentir como se estivéssemos presentes de verdade com as pessoas, não importa quão longe estaremos”.
E depois disso as discussões sobre internet nunca mais foram as mesmas.
O que Zuckeberg começou, o mercado abraçou. O termo metaverso está em todo lugar. É citado em praticamente todas as tendências para 2022 e os próximos 5 anos. Virou tema de curso. Empresas já estão lá. E investimentos em peso - a Everyrealm levantou nesta semana uma rodada de US$ 60 milhões em investimentos liderados pela Andreessen Horowitz, que já está investindo em plataformas de metaverso como Sandbox e Decentraland.
Mas afinal, o que raios é um metaverso?
Conceitualmente falando, o termo apareceu no romance cyberpunk Snow Crash, de Neal Stephenson, mas você vai ter uma dose melhor ilustrada do que ele representa no livro/filme Jogador Número 1, de Ernest Cline. Nesta história a humanidade, em um futuro distópico, procura fugir da vida normal através do OASIS, um videogame de realidade virtual onde você pode viver sua vida, ter atividades sociais, fazer negociações e compras, marcar encontros, como se realmente estivesse fisicamente naquele mundo. Quando você entra lá, pode ser qualquer um - o que chamamos de “avatar” digital. E isso é o metaverso: a convergência entre a realidade virtual e uma segunda vida em um mundo digital.
É o que Mark Zuckeberg está propondo com a Meta - a criação de algo similar, o seu próprio OASIS. A rede de conexão, de certa forma, ele já tem, com uma das redes sociais mais usadas no mundo. Os aparelhos também - a Meta é dona do Oculus, um aparelho de realidade virtual. Não se pretende ter apenas entretenimento: você vai ter vida social e de trabalho no metaverso. É a transposição da vida social completa para o mundo virtual, unindo quase todos os sentidos humanos.
E por isso o metaverso é uma palavra deste tamanho. É uma visão de mundo futurista que parece estar bem próxima de tornar a história de um livro de ficção científica uma realidade. Segundo projeções da Gartner, até 2026 as pessoas poderão gastar pelo menos 1 hora de seu tempo em um metaverso.
“Mas Anderson, os games então são o metaverso?”
Se você pegar pelo sentido da palavra, sim, mas de forma mais rudimentar. Alguns games já são metaversos, de fato - quem joga Fortnite, Roblox ou GTA hoje já pode entrar e conversar com amigos enquanto escolhe suas “skins” para a próxima batalha. É uma experiência social com dress code. Mas ainda não tão imersiva quanto propõe a Meta e boa parte do mercado. Essa confusão, inclusive, propicia que algumas marcas façam ativações em jogos como Fortnite e GTA RP para anunciar como “ações no metaverso”. Não está conceitualmente errado, mas não é o metaverso imaginado pelo mercado atualmente. Mesmo assim os games sim são parte desse ecossistema do metaverso por conta desse fator social porque permitem uma criatividade dentro desses mundos.
Games são o que chamamos de “gateways centralizados”, portas de entrada em metaversos controlados por empresas. Você entra e joga com amigos dentro de um ambiente controlado. Então “são metaversos com dono”. O próprio metaverso do Facebook/Meta será centralizado. Você vai poder entrar e tanto viver esses metaversos como criar algo lá dentro, com diversas ferramentas.
O que o mercado olha com mais atenção agora são os gateways descentralizados. Plataformas onde metaversos podem ser construídos livremente, de forma criativa e dentro de sistemas sustentados por blockchain. Que podem ser jogos, ou podem simplesmente serem mundos virtuais. O raciocínio é o mesmo de conteúdo descentralizado na internet - teoricamente para proteger mais
E nisso entram os tão falados NFTs, que como falamos em edição passada, trazem o senso de posse a bens digitais dentro desses mundos virtuais. NFT e metaverso andam de mãos dadas, dentro de um mega ecossistema já existente, como mostra o quadro abaixo. A movimentação econômica dentro dos metaversos acontecerá pelo NFT.
Pode falhar?
Sim e já existem os primeiros sinais. A Meta reportou reportou um lucro líquido 8% menor no balanço do quarto trimestre de 2021, e isso fez as ações da empresa derreterem por um tempo. Isso acontece por diversos motivos, mas mexe com o ponteiro de investimentos altos no metaverso. Como o mercado pode reagir se quem começou essa conversa não terminar o papo? Ainda mais quando o papo promete ser longo e incerto.
E como todo ambiente que emula a sociedade, é tranquilo esperar que as partes boas e ruins do convívio social venham juntas. Os primeiros casos de assédio já estão aparecendo no metaverso. Quanto menos regras tiver o ambiente, mais permissivo ele se torna e um risco maior a qualquer marca que nele quer navegar.
Entendi, então minha marca deve estar no metaverso?
Difícil responder esta pergunta sem considerar qual a visão de futuro que sua marca tem hoje. Como ainda passaremos por tempos bem experimentais até que o metaverso deixe de ser uma brincadeira para poucos (os equipamentos são caros e o acesso à internet ainda é um privilégio para poucos), acredito que branding no metaverso pode ser interessante para marcas onde a inovação é realmente parte do propósito delas. Se ainda é muito experimental, vai existir a tentativa e o erro. E pode não sair bom. E como lidar com o erro se você não tem uma filosofia de inovação? Como é o caso da ação da TIM que até já destacamos antes na newsletter. Uma loja criada dentro da plataforma Cryptovoxels que não ficou tão bonita assim e foi mal recebida nas redes sociais.
De qualquer forma, sim, ficar atento ao metaverso será fundamental ao entender como que a emulação de uma vida social no ambiente virtual pode ser interessante para o seu negócio. Onde ele entra nisso?
E especialmente porque o metaverso já não é mais uma exclusividade de assunto do Zuckerberg. Os gateways descentralizados proporcionam mais e mais portas para empresas testarem formatos. Setores como o mercado de real estate já estão de cabeça no metaverso, graças à venda de construções virtuais dentro desses mundos usando gateways descentralizados. Marcas grandes do mundo dos games fazem aquisições mirando games que são comunidades virtuais gigantes altamente engajadas, como a Microsoft comprando a Actvision Blizzard e a recente compra da Bungie pela Sony. Hollywood pode estar migrando para o metaverso construindo narrativas de filmes com plataformas de criação de mundos.
Teremos anos bem interessantes ainda para provar o que será o metaverso em nossas vidas, e se isso será realmente nossa vida nos próximos tempos. Só espero que não nos tornemos um mundo tão distópico quanto o imaginado por Ernest Cline - na história de Jogador Número 1, a humanidade entrou em uma recessão econômica absurda e o OASIS era o lugar para fugir de uma dura realidade. Enfim, é meu lado crítico nessa questão - qual metaverso será o predominante em nossas vidas.
…
Bom, acho que isso é só uma pequena introdução para entender o metaverso. Recomendo algumas leituras para se aprofundar neste mundo, especialmente do ponto de vista de negócios.
Lembram do Wordle, tema da newsletter na edição #8? O jogo foi comprado pelo jornal New York Times. Vai ser interessante ver como o jornal vai entender a relação das pessoas com o jogo, já que eles são famosos pelas palavras cruzadas publicadas até hoje em suas edições.
Está muito comentada a ação da Oi Fibra no Rio de Janeiro, onde colocou cadeiras gamers em um ponto de ônibus na cidade, num brand experience até interessante. A foto do ponto na frente do Barra Shopping está espalhada pela internet pois muita gente está dizendo que as cadeiras já foram roubadas. Não consegui entender se isso é verdade ou não (ou se as cadeiras são retiradas durante a noite), mas o meme já está instaurado.
Quem quiser ver o filme “Uncharted”, inspirado em um jogo de Playstation, pode aproveitar a ação feita pela Sony no Brasil. A experiência Gamer Night Uncharted inclui credencial, ingresso colecionável, mini pôster, adesivo e diversos conteúdos exclusivos, além de surpresas feitas pela PlayStation.
Uma nova ação promocional da Coca-Cola está no ar. “Pronto para Jogar” vai dar mais de 10 mil prêmios e experiências gamers exclusivas como ingressos para a Brasil Game Show, uma estação completa de games e até sessão de jogo com um streamer. Promete ter bastante envolvimento do público.
É isso para esta semana. Não esquece de compartilhar com os amigos e colegas esta newsletter. Fique bem, se possível em segurança - uma hora vamos ganhar esse jogo maldito da pandemia. Até mais!